sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A cachorrinha....Uma homenagem para Brida






Mas que amor de cachorrinha!

Mas que amor de cachorrinha!



Pode haver coisa no mundo

Mais branca, mais bonitinha

Do que a tua barriguinha

Crivada de mamiquinha?

Pode haver coisa no mundo

Mais travessa, mais tontinha

Que esse amor de cachorrinha

Quando vem fazer festinha

Remexendo a traseirinha?

Amor e Medo




Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"



Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...



Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.



O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.



É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!



Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?



A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!



Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...



Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...



Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...



Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!



No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!



Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.



Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...



Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

Casimiro de Abreu

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um pouco de Érico.....



Para um grande amigo de Maria Clara um pedacinho nesse blog

Erico Verissimo


“Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra
mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’.”
(O escritor diante do espelho)


Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.

Gota de orvalho
na coroa dum lírio:
Jóia do tempo.

O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe . São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença...

A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos.

A vida começa todos os dias.

Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.

Para Érico "A falta de Erico Verissimo"


Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.

Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.

Falta um boné, aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.

Falta um solo de clarineta.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lembranças de uma Rua


Nunca mais ouvi
vozes de crianças
vozes de meninos e meninas
cantarolando
cantigas de roda.
Na Rua da Bananeira
as mulheres,
as mulheres não conversam
nas portas das casas
nem crianças
contam estórias nas calçadas,
a rua esvaziou-se
e todos viraram PLIMPLIM

por Maria do Socorro

Momento da Poesia

Preciso estar ao meu redor
depois dentro de mim
no fundo
mais profundo
como se fosse o ato
do parto
o momento de parir

por Maria do Socorro Figueredo

Sô, obrigada pelo carinho com minha filha Maria Clara

Dona de casa "minha predileta"


Que vontade louca
de devorar o jornal
mas as louças na pia
as roupas no tanque
devoram meu tempo

por Maria do Socorro Figueredo

Narinha

Menina que veio do Ribeira,
com esses olhos redondos
espias pela fresta da vida
o mundo,
mas não entendes nada
tudo
é confuso
ainda,
depois
será muito mais
muito mais menina

por Maria do Socorro Figueredo